Consultor das centrais sindicais avalia que é preciso mudar a estrutura de representação dos trabalhadores para que haja renovação e fortalecimento do sindicalismo no Brasil.
A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Prestação de Serviços de Asseio e Conservação, Limpeza Urbana e Áreas Verdes (CONASCON) e a Federação Estadual dos Trabalhadores em Serviços, Asseio e Conservação, Limpeza Urbana, Ambiental e Áreas Verdes (FEMACO) realizaram, na manhã desta terça-feira (04), no auditório do SIEMACO São Paulo, a palestra “Propostas para um novo modelo sindical brasileiro” que, como o nome já diz, visa discutir o futuro do sindicalismo e novas propostas de estrutura sindical para os próximos anos, com o consultor e ex-diretor Clemente Ganz Lúcio a frente do tema. O SIEMACO Campinas, que é filiado às duas entidades, participou de forma online do evento.
Ganz Lúcio é professor universitário e sociólogo. Foi diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Lideranças de sindicatos filiados às duas entidades participaram do evento, onde o especialista teve como objetivo esclarecer a proposta encabeçada pelas centrais sindicais para levar o sindicalismo laboral às novas tecnologias e mudanças do mercado de trabalho mundial. “De manhã o trabalhador entrega comida, de tarde ele faz Uber. Qual categoria ele pertence? Tudo isso precisa ser discutido. E toda a representatividade em si precisa ser debatida, tirando os interesses pessoais e colocando o trabalhador em primeiro lugar. Essa é uma proposta de mudança na estrutura sindical para nossos filhos e netos, para que eles tenham emprego, mas sejam representados e tenham seus direitos preservados por entidades atualizadas aos novos sistemas de trabalho”, explicou.
“Ao invés de ter sindicato dos bancários, dos metalúrgicos, do vestuário, da limpeza, por que não podemos ter o sindicato dos trabalhadores? Hoje o trabalhador é auxiliar de escritório, a noite faz entrega de moto e no sábado faz bico na prefeitura, e o sindicato vai protegê-lo em todas essas áreas. Se ele virar trabalhador de estatal amanhã, onde ele esteja ele estará protegido pelo sindicato também. Será uma vida de trabalho que terá proteção sindical”explica Ganz Lúcio.
Sobre a evolução do sistema sindical, o consultor acredita que é preciso pensar que o desafio será imaginar de que maneira aos entidades estarão preparadas para as mudanças do mundo do trabalho. “Desenvolver ferramentas pra isso. Não sabemos como será esse novo sindicato, mas sabemos que precisamos tentar e começar, se não a proteção sindical efetiva vai ficar cada vez mais longe do trabalhador” alertou Clemente.
Recebendo os sindicatos para o evento, o presidente da CONASCON, Moacyr Pereira, abriu a fala agradecendo a abertura do espaço e enaltecendo a união do grupo a qual pertence. “O presidente do SIEMACO-SP, André Santos, abriu mais uma vez as portas para fazermos este evento e vem conduzindo com muita competência este sindicato, valorizando a base. E este evento vem de encontro a esse estilo de trabalho. Queremos levar conhecimento sobre o que estamos discutindo, para que os sindicatos de base entendam que precisamos nos organizar e buscar soluções para que a gente continue com essa força que temos”, disse Moacyr, que também é Diretor Tesoureiro do SIEMACO-SP.
Roberto Santiago, presidente da FEMACO e vice-presidente do SIEMACO-SP, deixou claro aos presentes a necessidade de renovação do formato sindical brasileiro. “Tem uma turma que está querendo atrapalhar a discussão por interesses pessoais, mas a discussão precisa ser em torno do trabalhador. E é por isso que apoiamos essa iniciativa”, disse. Ex-deputado federal por dois mandatos e ativo na política nacional, Santiago ressaltou que há um longo caminho a ser percorrido no Congresso Nacional. “Vamos levar adiante nossa proposta. Temos vários deputados e senadores que são da nossa linha de pensamento, mas a grande maioria são contra nós. Por isso temos que saber trabalhar, entrar com parcimônia no Congresso Nacional. Precisamos fazer uma mudança [no sindicalismo] e mudança dói. Não é fácil. Por isso precisamos trabalhar juntos nesse projeto”, completou.
André Santos Filho, presidente do SIEMACO São Paulo e vice-presidente da FEMACO, parabenizou as entidades pelo evento e cumprimentou os presentes em nome da Diretoria Executiva do sindicato. “Quero agradecer a presença de todos aqui e dos que nos assistem pelo link ao vivo. Ficamos felizes em sediar este evento, uma oportunidade de tirar dúvidas de um texto que foi criticado de forma errada e precisa do nosso apoio”, disse.
O dirigente também reforçou a fala de Santiago sobre a importância do andamento do projeto apresentado no evento. “Essa renovação precisa começar de alguma forma. Mobilizar congresso e governo, como disse Santiago. E não temos tempo para ficar em cima do muro, discutindo sobre coisas irrelevantes. Perdemos várias oportunidades de melhorar a estrutura sindical por questões de vaidade, e não avançamos. Temos uma nova oportunidade com o governo Lula e esperamos que a gente consiga agora essa mudança e transformação. se nao vamos parar no temos e morrer na praia”, concluiu André Santos Filho.
Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), esteve no evento e reforçou o apoio ao projeto. “Vamos caminhar para frente, pensando no futuro que queremos para nossos filhos e netos. A representatividade sindical está em jogo e as futuras gerações precisam desse trabalho de hoje, para evitarmos a precarização ainda maior do emprego e da renda”, finalizou.
Ao final do evento, várias lideranças presentes debateram com Clemente o formato e as aplicações práticas de trechos do texto apresentado. Com as dúvidas tiradas, a expectativa é de que cada representante sindical leve a ideia do projeto para suas bases, reforçando o apoio de todas as categorias para este novo modelo.